Saiba como enfrentar esse problema e incentivar a
autoestima de crianças e adolescentes na medida certa
EDUCAÇÃO – Revista Época 13/07/2012
CAMILA GUIMARÃES E LUIZA KARAM, COM ISABELLA AYUB
Os alunos do 3º ano de uma das melhores escolas de ensino médio dos Estados Unidos, a Wellesley High School, em Massachusetts, estavam reunidos, numa tarde ensolarada no mês passado, para o momento mais especial de sua vida escolar, a formatura. Com seus chapéus e becas coloridos e pais orgulhosos na plateia, todos se preparavam para ouvir o discurso do professor de inglês David McCullough Jr. Esperavam, como sempre nessas ocasiões, uma ode a seus feitos acadêmicos, esportivos e sociais. O que ouviram do professor, porém, pode ser resumido em quatro palavras: vocês não são especiais. Elas foram repetidas nove vezes em 13 minutos. “Ao contrário do que seus troféus de futebol e seus boletins sugerem, vocês não são especiais”, disse McCullough logo no começo. “Adultos ocupados mimam vocês, os beijam, os confortam, os ensinam, os treinam, os ouvem, os aconselham, os encorajam, os consolam e os encorajam de novo. (...) Assistimos a todos os seus jogos, seus recitais, suas feiras de ciências. Sorrimos quando vocês entram na sala e nos deliciamos a cada tweet seus. Mas não tenham a ideia errada de que vocês são especiais. Porque vocês não são.”
O que
aconteceu nos dias seguintes deixou McCullough atônito. Ao chegar para
trabalhar na segunda-feira, notou que havia o dobro da quantidade de e-mails
que costumava receber em sua caixa postal. Paravam na rua para cumprimentá-lo.
Seu telefone não parava de tocar. Dezenas de repórteres de jornais, revistas,
TV e rádio queriam entrevistá-lo. Todos queriam saber mais sobre o professor
que teve a coragem de esclarecer que seus alunos não eram o centro do universo.
Sem querer, ele tocara num tema que a sociedade estava louca para discutir –
mas não tinha coragem. Menos de uma semana depois, McCullough fez a primeira
aparição na TV. Teve de explicar que não menosprezava seus jovens alunos, mas
julgava necessário alertá-los. “Em 26 anos ensinando adolescentes, pude ver
como eles crescem cercados por adultos que os tratam como preciosidades”, disse
ele a ÉPOCA. “Mas, para se dar bem daqui para a frente, eles precisam saber que
agora estão todos na mesma linha, que nenhum é mais importante que o outro.”
A reação ao discurso do professor McCullough pode parecer apenas mais um desses fenômenos de histeria americanos. Mas a verdade é que ele tocou numa questão que incomoda pais, educadores e empresas no mundo inteiro – a existência de adolescentes e jovens adultos que têm uma percepção totalmente irrealista de si mesmos e de seus talentos. Esses jovens cresceram ouvindo de seus pais e professores que tudo o que faziam era especial e desenvolveram uma autoestima tão exagerada que não conseguem lidar com as frustrações do mundo real. “Muitos pais modernos expressam amor por seus filhos tratando-os como se eles fossem da realeza”, afirma Keith Campbell, psicólogo da Universidade da Geórgia e coautor do livro Narcisism epidemic (Epidemia narcisista), de 2009, sem tradução para o português. “Eles precisam entender que seus filhos são especiais para eles, não para o resto do mundo.”
Em português, inglês ou chinês, esses filhos incensados desde o berço formam a turma do “eu me acho”. Porque se acham mesmo. Eles se acham os melhores alunos (se tiram uma nota ruim, é o professor que não os entende). Eles se acham os mais competentes no trabalho (se recebem críticas, é porque o chefe tem inveja do frescor de seu talento). Eles se acham merecedores de constantes elogios e rápido reconhecimento (se não são promovidos em pouco tempo, a empresa foi injusta em não reconhecer seu valor). Você conhece alguém assim em seu trabalho ou em sua turma de amigos? Boa parte deles, no Brasil e no resto do mundo, foi bem-educada, teve acesso aos melhores colégios, fala outras línguas e, claro, é ligada em tecnologia e competente em seu uso. São bons, é fato. Mas se acham mais do que ótimos.
Comentários:
O grande problema nas mudanças é a falta de equilíbrio. Antes tínhamos os pais extremamente autoritários que exageravam no “não é capaz”, “não consegue”, “não pode”, depois vieram os pais demasiadamente permissivos que não impõem limites aos filhos e fazem todas as vontades para não frustrá-los, inclusive, enaltecendo e elogiando sem o devido merecimento.
O equilíbrio consiste em colocar limites, educar com base em direitos e deveres e elogiar o esforço, pois, mesmo que a criança não consiga saberá que foi importante o esforço e a dedicação, aprendendo que o erro ou um resultado negativo faz parte do processo e que com esforço e perseverança conseguirá. A frustração acontecerá, mas não o derrotará.
Para elogiar é preciso levar em conta três aspectos importantes:
Existem pesquisas mostrando que os alunos que são elogiados de forma indevida desenvolvem uma postura de não querer correr risco e não tentar para não se expor e perder o prestígio.
Não podemos pensar que está tudo errado, mudar tudo e voltar aos anos 70, mas também não podemos continuar desenvolvendo jovens “Eu me acho”, isso não é autoestima elevada, isso é arrogância. São jovens ou pessoas sem humildade e que não se conhecem, pois não permitiram que enfrentassem desafios, errassem ou perdessem e tentassem novamente. A educação também serve para isso. Quantas vezes eu estava me sentido o gênio da matemática e encontrei um problema que precisei ficar horas tentando resolver e pensei: “Ednaldo, ‘baixe a bola’, pois você não é tudo isso”.
Equilíbrio é a chave para uma educação adequada.
Ednaldo Ribeiro, administrador, professor de matemática e psicopedagogo
EDUCAÇÃO – Revista Época 13/07/2012
CAMILA GUIMARÃES E LUIZA KARAM, COM ISABELLA AYUB
Os alunos do 3º ano de uma das melhores escolas de ensino médio dos Estados Unidos, a Wellesley High School, em Massachusetts, estavam reunidos, numa tarde ensolarada no mês passado, para o momento mais especial de sua vida escolar, a formatura. Com seus chapéus e becas coloridos e pais orgulhosos na plateia, todos se preparavam para ouvir o discurso do professor de inglês David McCullough Jr. Esperavam, como sempre nessas ocasiões, uma ode a seus feitos acadêmicos, esportivos e sociais. O que ouviram do professor, porém, pode ser resumido em quatro palavras: vocês não são especiais. Elas foram repetidas nove vezes em 13 minutos. “Ao contrário do que seus troféus de futebol e seus boletins sugerem, vocês não são especiais”, disse McCullough logo no começo. “Adultos ocupados mimam vocês, os beijam, os confortam, os ensinam, os treinam, os ouvem, os aconselham, os encorajam, os consolam e os encorajam de novo. (...) Assistimos a todos os seus jogos, seus recitais, suas feiras de ciências. Sorrimos quando vocês entram na sala e nos deliciamos a cada tweet seus. Mas não tenham a ideia errada de que vocês são especiais. Porque vocês não são.”
A reação ao discurso do professor McCullough pode parecer apenas mais um desses fenômenos de histeria americanos. Mas a verdade é que ele tocou numa questão que incomoda pais, educadores e empresas no mundo inteiro – a existência de adolescentes e jovens adultos que têm uma percepção totalmente irrealista de si mesmos e de seus talentos. Esses jovens cresceram ouvindo de seus pais e professores que tudo o que faziam era especial e desenvolveram uma autoestima tão exagerada que não conseguem lidar com as frustrações do mundo real. “Muitos pais modernos expressam amor por seus filhos tratando-os como se eles fossem da realeza”, afirma Keith Campbell, psicólogo da Universidade da Geórgia e coautor do livro Narcisism epidemic (Epidemia narcisista), de 2009, sem tradução para o português. “Eles precisam entender que seus filhos são especiais para eles, não para o resto do mundo.”
Em português, inglês ou chinês, esses filhos incensados desde o berço formam a turma do “eu me acho”. Porque se acham mesmo. Eles se acham os melhores alunos (se tiram uma nota ruim, é o professor que não os entende). Eles se acham os mais competentes no trabalho (se recebem críticas, é porque o chefe tem inveja do frescor de seu talento). Eles se acham merecedores de constantes elogios e rápido reconhecimento (se não são promovidos em pouco tempo, a empresa foi injusta em não reconhecer seu valor). Você conhece alguém assim em seu trabalho ou em sua turma de amigos? Boa parte deles, no Brasil e no resto do mundo, foi bem-educada, teve acesso aos melhores colégios, fala outras línguas e, claro, é ligada em tecnologia e competente em seu uso. São bons, é fato. Mas se acham mais do que ótimos.
Comentários:
O grande problema nas mudanças é a falta de equilíbrio. Antes tínhamos os pais extremamente autoritários que exageravam no “não é capaz”, “não consegue”, “não pode”, depois vieram os pais demasiadamente permissivos que não impõem limites aos filhos e fazem todas as vontades para não frustrá-los, inclusive, enaltecendo e elogiando sem o devido merecimento.
O equilíbrio consiste em colocar limites, educar com base em direitos e deveres e elogiar o esforço, pois, mesmo que a criança não consiga saberá que foi importante o esforço e a dedicação, aprendendo que o erro ou um resultado negativo faz parte do processo e que com esforço e perseverança conseguirá. A frustração acontecerá, mas não o derrotará.
Para elogiar é preciso levar em conta três aspectos importantes:
1.
Elogio ao esforço:
Um professor de matemática Toru
Kumon disse que elogiou um aluno que tirou nota zero em tres provas. Na
primeira vez o aluno entregou em branco, na segunda, errou tudo, mas tentou
responder todas as questões e o professor elogiou o esforço para tentar
resolver todos os problemas.
2.
Elogio verdadeiro:
O elogio sem fundamento é
contraproducente, pois o aluno terá uma sensação falsa que está indo bem e
continuará no caminho errado, isto é, não mudará sua postura.
3.
Elogio precisa ser concreto e pontual:
O elogio não pode ser vazio ou
subjetivo do tipo “Muito bem! Parabéns! Você é um campeão! Você é muito
inteligente” Existem pesquisas mostrando que os alunos que são elogiados de forma indevida desenvolvem uma postura de não querer correr risco e não tentar para não se expor e perder o prestígio.
Não podemos pensar que está tudo errado, mudar tudo e voltar aos anos 70, mas também não podemos continuar desenvolvendo jovens “Eu me acho”, isso não é autoestima elevada, isso é arrogância. São jovens ou pessoas sem humildade e que não se conhecem, pois não permitiram que enfrentassem desafios, errassem ou perdessem e tentassem novamente. A educação também serve para isso. Quantas vezes eu estava me sentido o gênio da matemática e encontrei um problema que precisei ficar horas tentando resolver e pensei: “Ednaldo, ‘baixe a bola’, pois você não é tudo isso”.
Equilíbrio é a chave para uma educação adequada.
Ednaldo Ribeiro, administrador, professor de matemática e psicopedagogo
Parabéns Professor! Sou professor de Matemática em escola particular do estado de São Paulo e vivencio exatamente esse tipo de situação: alunos que se acham e pais que acham os filhos suprassumos. E o pior, algumas escolas que dão aval para esse tipo de comportamento, apoiadas em psicologias fajutas.
ResponderExcluirProfessor, muito obrigado! Conto com sua preciosa contribuição para melhorarmos a educação por meio da informação.
ExcluirOs professores e os pais têm uma grande importância no processo educacional, mas não podemos jogar todas as responsabilidades apenas nas duas partes. Refleti muito sobre os livros sobre o assunto com “os pais precisam fazer isso, devem fazer aquilo, os pais, os pais...”. E os filhos? E os alunos? O aluno é o protagonista no processo de aprendizagem e desenvolvimento e para isso e por isso precisa ser atuante.
Acredito que a culpa não é da criança, pois o comportamento que ela apresenta é consequência das atitudes dos adultos que orientam, mas isso não elimina os direitos e, sobretudo, deveres de cada um.
Nós precisamos orientar pais e filhos.