A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA NA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DE SEUS FILHOS

A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA NA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DE SEUS FILHOS

Uma Visão Harmônica e Integrada do Ser Humano Numa Avaliação Psicopedagógica
por Maria Cecília Gomara de Oliveira*


O atendimento psicopedagógico clínico torna possível compreender a queixa advinda da família, da escola e, muitas vezes do próprio sujeito em relação ao seu desempenho escolar e da aprendizagem em geral.

Num primeiro momento se faz necessário esclarecer, que determinados procedimentos vão auxiliar o psicopedagogo em seu diagnóstico e num futuro processo de intervenção.

Uma boa anamnese com os responsáveis ou com o próprio sujeito vai fornecer informações, dados e subsídios que em conjunto com provas avaliativas, levarão a identificar as fases do desenvolvimento cognitivo em que se encontra o paciente e ao passado do sujeito em relação à aprendizagem.

O processo diagnóstico é uma fase muito importante para o tratamento psicopedagógico de um indivíduo com dificuldade na aprendizagem. Neste processo o psicopedagogo vai investigar o que está acontecendo para que o indivíduo não esteja apresentando o resultado esperado na sua aprendizagem. Trata-se de uma pesquisa a ser realizada para que se possa dar um esclarecimento a uma queixa. Só assim será possível traçar um plano de intervenção psicopedagógica.

O diagnóstico deve ser baseado em dois conceitos fundamentais e complementares: o conceito do ser humano e o do problema de aprendizagem. O ser humano que é considerado como uma unidade complexa, pluridimensional, transversalizado pela afetividade e pelas relações vinculares, torna-se, então, sujeito da construção de seu próprio saber.

Os problemas de aprendizagem estão ligados ao indivíduo como um todo, e o sintoma que emerge do processo de aprender coloca em cena a pessoa total, não existindo causas independentes, mas sim produtos de uma estrutura global. O ser humano não é somente matéria física, nem somente consciência, nem apenas emoções, logo, levar em consideração apenas alguns destes aspectos isoladamente, é perder de vista a sua "inteireza".

Fazendo aqui um parêntese, podemos ter na visão holística uma maneira de ver o mundo, o Homem e a vida em si como entidades únicas, completas e intimamente associadas. Esta palavra vem do grego HOLOS, que significa "Inteiro" ou "Todo", e representa um novo paradigma científico e filosófico que surgiu como resposta ao mal-estar da pós-modernidade, que é em grande parte causado pela cisão dos aspectos humanos e naturais trazida pelo antigo paradigma.

Sendo uma forma de tentar unir o Homem ao universo (natureza) onde está inserido, o Holismo visa a integração dos seus aspectos físicos, emocionais, mentais e integridade. Vale mencionar que holismo é uma tendência que se supõe seja própria do universo, de sintetizar unidades numa totalidade organizada — como teoria biológica, considera o corpo humano com um todo indecomponível. Já o reducionismo, como a palavra indica, vem de redução, e na ciência define a tendência de se estudar cada fenômeno separadamente, para depois inseri-lo na totalidade. Quando falamos em visão holística, na educação, estamos nos referindo a uma visão global e integrada, o conjunto visto de maneira harmônica, estimulando o educando a aprender a aprender para desenvolver todas as suas potencialidades.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) “Saúde é um bem-estar físico, mental e social e não meramente ausência de doenças”.

Um diagnóstico psicopedagógico, não se trata de enquadrar o indivíduo em categorias patológicas que possam vir, de futuro, a rotulá-lo, aumentando, assim, sua baixa estima, seu bloqueio para o processo de aprender. O não-aprender, o fracasso escolar e as demais variantes do problema de aprendizagem requerem uma análise cuidadosa.

Para que o processo de avaliação tenha sucesso, é de grande importância a integração entre o psicopedagogo e a família do sujeito que está sendo avaliado, mas nem sempre é o que ocorre.

Muitas vezes, nos defrontamos com o questionamento da família em relação ao resultado do diagnóstico. Esse resultado pode gerar um sentimento de culpa nos familiares, por acharem ser os causadores de um possível distúrbio de aprendizagem. Após, deparamos com uma fase de revolta, tristeza, para chegar depois a entenderem o que está interferindo no aprendizado. Nessa fase de aceitação, busca-se o que é possível fazer por essa criança. Mas, nem todos os membros da família chegam juntos a essa fase, gerando, então, muitas vezes, desentendimentos entre os pais ou responsáveis dessa criança.

A importância do comprometimento da família junto à educação como um todo é fundamental para um bom desenvolvimento da criança.

É no seio da unidade familiar que o indivíduo estabelece suas primeiras relações, e seu comportamento posterior traz selo desse seu primeiro grupo. A investigação de crianças com dificuldades de aprendizagem torna-se um grande desafio, pois já não cabe classificar famílias, em virtude da coexistência de um número significativo de novos arranjos familiares. O fato de a família procurar ajuda psicopedagógica não significa que esteja pronta para rever os seus padrões.

Trazer a família para o centro do tratamento é bastante interessante, pois problemas que envolvem a aprendizagem são bastante complexos, devendo ser considerado aspectos cognitivos, afetivos e sociais dessa família. A família é considerada para muitos, entidade fundamental na vida de cada indivíduo, se esta relação for construtiva, o ser humano será privilegiado, mas se existirem conflitos envolvendo esta relação, isso influenciará no seu desenvolvimento em vários aspectos da vida.

O psicopedagogo deve estar atento a tudo que a família diz e à maneira como diz, procurando entender o seu conteúdo verbal com suas características: entonação e altura da voz, intensidade, timbre, ritmo das palavras, pausas, emoções, etc... Deve estar atento a resposta não verbal dadas pelo corpo: posturas, expressões faciais, movimento das mãos e das pernas. Compreender e diferenciar essa fala pode ser de grande importância para se chegar a um diagnóstico correto.
O disléxico tem sempre uma história de frustrações, sofrimentos, humilhações e sentimentos de menos valia. Cabe, portanto, ao psicopedagogo, junto com os familiares, ajudá-lo a resgatar sua dignidade, a fortalecer seu ego, a reconstruir sua auto-estima, estimular, incentivar e fazer acreditar em si, para sentir-se capaz e seguro.

Porque junto com a família o terapeuta terá condições de construir um novo caminho para essa criança.

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* Maria Cecília Gomara de Oliveira
Pedagoga, Psicopedagoga e Mestra em Educação
É voluntária do CTAS (Centro de Triagem e Assistência Social) da ABD

IDEB - Escolas privadas estão abaixo da meta

Escolas privadas estão abaixo da meta
No ensino médio, 15 Estados e o Distrito Federal não alcançaram a nota mínima; no fundamental, a situação é menos preocupante
15 de agosto de 2012 | 3h 03
BRUNO DEIRO - O Estado de S.Paulo
No ensino médio da rede particular do Brasil, 15 Estados e o Distrito Federal não atingiram a nota mínima esperada pelo governo no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Para piorar, dois terços dos 20 Estados avaliados em 2009 apresentaram queda ou mantiveram a mesma média no levantamento divulgado ontem.
No ensino fundamental, a situação é menos preocupante. No ciclo de 1.ª a 4.ª série, 33% não atingiram a meta e apenas dois Estados tiveram queda de rendimento. Já entre os alunos de 5.ª a 8.ª série, metade das escolas avaliadas melhorou sua média.
Para especialistas, os números do ensino médio são frustrantes pelo fato de não refletir as vantagens que os alunos da rede privada têm em relação aos que estudam em escolas públicas.
País tem 30% das escolas em 'alerta'
Classificação feita com base no Ideb, divulgado na terça-feira, analisa desempenho de cada escola e aponta distorções em ranking
20 de agosto de 2012 | 3h 06

PAULO SALDAÑA - O Estado de S.Paulo
A rede pública de São Paulo teve em 2011 a 3.ª melhor nota do País no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no ciclo 2 do ensino fundamental, de 5ª à 8ª série, mas 30% de suas escolas estão estacionadas, em estado de alerta: não avançaram na nota, não bateram suas metas e não chegaram ao Ideb 6 - a meta do País para 2021.
O porcentual paulista é igual ao do Brasil. No País, 30% das escolas dessa fase também estão em alerta. Nas unidades de 1.ª à 4.ª série, o quadro é um pouco melhor: são 20% nessa situação.
A classificação em níveis qualitativos, recém-criada pela Meritt Informação Educacional, oferece uma leitura mais adequada da qualidade das escolas brasileiras.
"Precisamos comparar escolas com elas mesmas. Ter duas escolas com a mesma nota, por exemplo, não significa que estão na mesma situação", explica o diretor da Meritt Alexandre Oliveira.
Por isso, o método cruza três critérios da evolução das escolas para entender melhor os dados do Ideb: crescimento no índice, cumprimento das metas para o ano e o Ideb 6. A combinação desses critérios coloca as escolas em determinado nível qualitativo.
A divisão funciona assim: caso a escola não tenha cumprido nenhum dos critérios, a situação é de alerta. Se pelo menos dois dos critérios foram cumpridos, a situação é de atenção.
Ter evoluído com a nota e ficado acima da meta, mesmo que abaixo de 6, é positivo e recebe a classificação manter.
Na classificação excelente estão as escolas que cumpriram todos os critérios (mais informações nesta página).
A distribuição das escolas entre os níveis mostra grandes desafios, principalmente na fase 2 do ensino fundamental. Nas escolas de 5ª à 8ª série, além de 30% em alerta, 7.584 estão em atenção. Ou seja, só evoluíram em um ou dois critérios. Dessas escolas, metade só cumpriu a meta para aquele ano - sem evoluir.
No ciclo 1 do fundamental, de 1ª à 4ª série, há 27% das escolas no nível de atenção - além dos 20% em alerta. A boa notícia é que 43% das escolas (15.322 unidades) conseguiram crescer no Ideb e bater suas metas.
Contexto. Para o diretor da Fundação Lemann, Denis Mizne, é preciso entender o que acontece em cada escola, sem perder de vista a análise das redes. "Entender a escola contra ela mesma, levando em conta as regiões em que estão, é importante para entender a qualidade do ensino naquele contexto", diz ele. "E você olha para as redes a partir das escolas e descobre as políticas que estão dando certo. Não fica só na discussão das médias, que nos atrapalha."
Leia mais em:

País supera metas do Ideb no ensino fundamental e iguala no médio

MEC divulgou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, Ideb.
Ensino médio tem avanço baixo em comparação com fundamental.

Do G1, em São Paulo
14/08/2012

Ideb 2011 (Foto: Editoria de Arte/G1)
O Brasil superou as metas na educação propostas pelo Ministério da Educação (MEC) para serem alcançadas em 2011 nos dois ciclos do ensino fundamental (de 1º ao 5º ano e do 6º ao 9º ano), mas apenas igualou a meta projetada para o ensino médio, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado nesta terça-feira, 14 (veja gráfico ao lado).
Mas os resultados são muito desiguais considerando municípios e escolas individualmente: 39% dos municípios e 44,2% das escolas estão abaixo da meta.
O Ideb é um indicador geral da educação nas redes privada e pública. Foi criado em 2007 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e leva em conta dois fatores que interferem na qualidade da educação: rendimento escolar (taxas de aprovação, reprovação e abandono) e médias de desempenho na Prova Brasil.
Assim, para que o Ideb de uma escola ou rede cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula.
A Prova Brasil avalia o desempenho de estudantes em língua portuguesa e matemática no final dos ciclos do ensino fundamental, de 4ª série (5º ano) e 8ª série (9º ano), e no terceiro ano do ensino médio.
Em 2011, os estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental - 4ª série (5º ano) - tiveram 5,0 pontos. A meta era de 4,6, um índice que o país já havia obtido na avaliação anterior, em 2009.
Estudantes dos anos finais do ensino fundamental - 8ª série (9º ano) - tiveram 4,1 pontos em 2011. A meta era de 3,9, também uma marca obtida há dois anos.
Ensino médioAlunos do ensino médio tiveram o pior desempenho e crescem no ritmo mais baixo. Em 2011, eles alcançaram a meta projetada de 3,7 pontos. Nesta fase, o crescimento tem sido lento: em 2005 foi 3,4, em 2007 teve 3,5; em 2009, a nota foi de 3,6.
A distância da nota do Ideb nos anos iniciais em 2011 ficou quase três vezes maior em relação ao ensino médio na comparação com o primeiro ano do índice, em 2005. O ministro da Educação, Aloízio Mercadante, reconhece que o ensino médio apresenta problemas e preocupa o governo. "Temos 13 disciplinas obrigatórias no ensino médio da rede publica. É uma sobrecarga muito grande para o estudante. Não contribui para ter foco nas essenciais: português, matemática e ciências. Outro problema é a parcela significativa de alunos matriculados no curso noturno", avalia Mercadante.
Para Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a discrepância entre os níveis de ensino refletem a falta de visão sistêmica do Brasil. "O governo acaba fazendo aposta na criança nesse momento inicial da aprendizagem, que é um momento decisivo de fato, mas ela não é seguida nos anos finais e no ensino médio. Esse é o principal motivo de a gente ter uma queda de rendimento", explicou.
Segundo ele, essa tendência tem sido vista na política educacional nos últimos quatro anos. "Você tem uma forte centralização da preocupação com a avaliação, na pressão sobre a gestão, e vai abandonando os demais ciclos".
O objetivo estabelecido pelo MEC quando criou o índice, em 2007, foi que todas as séries atinjam níveis educacionais de países desenvolvidos até a divulgação do índice em 2022. As metas, que fazem parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), para alunos dos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) é chegar a 6 pontos; para alunos dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) é de 5,5 pontos e para o ensino médio é de 5,2 pontos. A escala vai de 0 a 10.
Nos anos finais do ensino fundamental, considerando todas as redes de ensino (pública e privada), sete estados não alcançaram a meta projetada para 2011: Amapá, Espírito Santo, Pará, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Sergipe. Considerando apenas a rede pública, seis estados ficaram a abaixo da meta: Alagoas, Amapá, Pará, Rio Grande do Sul, Roraima e Sergipe.
Nordeste com piores índices
O Nordeste concentra os índices mais baixos do Ideb nos anos finais do ensino fundamental. A média na região é de 3,5 pontos, acima da meta projetada de 3,3 pontos. Alagoas tem a pior marca do país, com 2,9 pontos, mesmo índice registrado em 2009. Sergipe e Bahia obtiveram 3,3 pontos, mas a meta para os sergipanos era 3,5, enquanto que para os baianos era de 3,2 pontos. Entre os estados do Nordeste, destaque para Ceará, com 4,2 pontos, muito acima da meta projetada de 3,6 pontos.
Amazonas cresce no Norte
Amazonas obteve crescimento no Ideb, passando 3,5 em 2009 para 3,8 em 2011, quando a meta era de 3,2. O Ideb do Pará também cresceu, de 3,4 para 3,7, mais ficou abaixo da meta de 3,8 pontos. O maior índice da região Norte é do Acre: 3,2 pontos. O Ideb da região Norte é de 3,8 pontos.
Sudeste tem maior média
A região com maior Ideb do país é a Sudeste, com 4,5 pontos. São Paulo (4,7), Minas Gerais (4,6) e Rio de Janeiro (4,2) superaram as suas metas, enquanto que o Espírito Santo (4,2) ficou abaixo da meta projetada pelo MEC.
Santa Catarina é destaque
O Ideb da região Sul é de 4,3, dentro da meta projetada. Santa Catarina, com 4,9 pontos, obteve a maior média do pais. Sua meta era 4,7 pontos. Rio Grande do Sul, com 4,1 pontos, ficou abaixo da média, de 4,3 pontos.
Mato Grosso muito acima da meta
No Centro-Oeste, o Mato Grosso obteve 4,5 pontos no final do ensino fundamental, superando em um ponto a meta de 3,5. As demais unidades da federação (Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul) também superaram suas metas. O Ideb de região foi de 4,3 pontos.
Ideb 2011 (Foto: Editoria de Arte/G1)

A origem do problema é uma velha conhecida: a precariedade da educação brasileira

Dificuldade de encontrar mão de obra qualificada afeta economia brasileira

A origem do problema é uma velha conhecida: a precariedade da educação brasileira. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, metade dos trabalhadores brasileiro não completou nem o ensino fundamental.

JOSÉ ROBERTO BURNIER E MARCO ANTÔNIO GONÇALVESSão Paulo, SP
Edição do dia 13/08/2012
13/08/2012 21h05- Atualizado em 13/08/2012 21h06

A dificuldade de encontrar quem tenha preparação adequada pra preencher vagas afeta muitos setores da economia brasileira. É o apagão de mão de obra qualificada.
Pode não ter sido na velocidade da locomotiva chinesa. Mas é fato: a economia brasileira teve, na última década, o maior crescimento desde os anos 70. As empresas investiram, aumentaram a produção e, claro, precisaram de mais trabalhadores.
Entre 2001 e 2010, o país criou quase 18 milhões de empregos com carteira assinada, um aumento de 68%.
O que parecia um caminho para um ciclo virtuoso deu de cara com barreiras que muitos não previram, como as crises no exterior, outras escancaradas, como a precária infraestrutura do país e uma, que havia tempo estava embaixo do tapete: a falta de mão de obra qualificada. Mas o que é isso?
Mão de obra qualificada é o trabalhador que tem as qualidades mínimas exigidas para exercer a função para a qual ele está sendo contratado. Desde a mais simples até a mais sofisticada.
Ao investigar a origem do problema, o Jornal Nacional se deparou com uma velha conhecida: a precariedade da educação brasileira.
“No Brasil formou-se um desencontro. Um enorme desencontro entre a escola e o trabalho. Porque o trabalho se expandiu, as tecnologias evoluíram e a escola de um modo geral não conseguiu acompanhar. Ficou atrasada. Está no descompasso. Que é um descompasso que afeta muito o crescimento do país”, disse professor Relações do Trabalho - USP José Pastore.
Dos 192 milhões de brasileiros, 93 milhões estão aptos a trabalhar. O descompasso a que o professor se refere está entre o que essas pessoas oferecem e o que o mercado de trabalho precisa.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, cerca de 90% dos novos empregos no Brasil com carteira assinada exigem pelo menos o ensino médio completo, o antigo colegial. Só que quase metade dos trabalhadores não completou nem o ensino fundamental, da primeira à oitava série. E 16% enquadravam-se na condição de analfabetos funcionais, aqueles que, embora consigam ler, não são capazes de interpretar textos ou fazer as operações matemáticas mais simples.
Na fila do emprego o descompasso entre a escola e o trabalho fica ainda mais evidente. No centro de Manaus, uma fila se forma desde as 4h, todos os dias, ao redor do Sine, Sistema Nacional de Empregos, do Ministério do Trabalho. Todas as pessoas estão lá atrás de emprego. E das nove mil vagas oferecidas pelo Sine Manaus no primeiro semestre deste ano, cinco mil não foram preenchidas ainda, por causa da baixa escolaridade e da baixa qualificação profissional dos candidatos.
“Até para trabalhar mesmo como auxiliar de serviços gerais, hoje em dia está exigindo tudo. Segundo grau completo, curso também”, ressaltou Marinês de Souza Correa desempregada.
Em todo o país, segundo o Ministério, de quase 1,5 milhão oferecidas no primeiro semestre, pouco mais de 20% foram preenchidas.
“Muitas vezes, o trabalhador não tem o acesso à qualificação. E às vezes a questão da educação, ensino médio, fundamental, não é de uma qualidade que ele possa chegar pro processo seletivo e passar no processo seletivo. Então dificulta para o trabalhador”, destacou o diretor do Sine Tiago Medeiros.
O problema aparece mesmo entre quem já terminou o ensino médio. Os recrutadores tiveram que incluir até ditado no testes por causa dos erros em textos de funcionários nas empresas. Um teste foi feito por um aluno do terceiro ano de economia. De 30 palavras ditadas ele errou 28.
“Eles chegam de forma inadequada na universidade porque não teve uma educação básica. E vão reproduzir as mesmas práticas quando chegarem no mercado de trabalho. Aliás, já estão reproduzindo porque já estão pleiteando vagas para esse mercado”, afirmou a recrutadora Yolanda Brandão.
“É comum você encontrar um caixa que não sabe fazer conta, a não ser apertando o botão da maquina registradora. É comum encontrara alguém num call center que não sabe responder a terceira pergunta”, disse a professor da FGV-SP Luiz Carlos Cabrera.
Tamires Fontes do Nascimento que disputa uma vaga de estagiária estudou em escola pública. Como o ensino não foi bom, ela decidiu fazer cursinho para enfrentar o vestibular. O que era pra ser uma recuperação das matérias virou um choque.
“Cerca de 80% do material, do conhecimento que eu obtive durante o cursinho pré-vestibular, 80% era tudo coisa nova, tudo coisa que eu não aprendi na escola. No ensino fundamental, no ensino médio”, contou Tamires.
Trabalhador mal qualificado leva mais tempo para desempenhar as suas tarefas. A empresa gasta mais tempo e dinheiro para produzir. O produto fica mais caro e o Brasil vai ficando pra trás na concorrência com outros países.
Apesar de ser hoje a sexta maior economia do mundo, o Brasil está na rabeira quando o assunto é produtividade. Estamos na posição 46 numa lista que tem 59 países. Quando se analisa somente a educação, o buraco fica mais fundo. Somos o 54º.
“O mundo do trabalho não quer apenas canudo, apenas diploma. A escola de hoje ensina, na melhor das hipóteses, a passar no exame. Não ensina a pensar. E o trabalho moderno exige o pensamento. Nós vivemos numa sociedade do conhecimento em que se demanda muito mais neurônio do que músculo”, completou José Pastore.