Claudio de Moura Castro

Sucesso tem fórmula

"Serve para toda competição: qualidade valorizada,
seleção dos melhores, prática obsessiva e persistência.
Quem aplicar essa receita terá os mesmos resultados"

Durante séculos, a Inglaterra dominou os mares e, dessa forma, muito mais do que os mares. Para isso tinha os melhores navios. E, para tê-los, precisava de excelentes carpinteiros navais. Com a tecnologia do ferro, os navios passaram a ter couraça metálica. Impossível manter a superioridade sem caldeireiros e mecânicos competentes. Uma potência mundial não se viabiliza sem a potência dos seus operários.
Ilustração Atômica Studio

A Revolução Industrial tardia da Alemanha foi alavancada pela criação do mais respeitado sistema de formação técnica e vocacional do mundo. Daí enchermos a boca para falar da "engenharia alemã". Mas, no fim das contas, todos os países industrializados montaram sistemas sólidos e amplos de formação profissional. Para construir locomotivas, aviões, naves espaciais.
Assim como temos a Olimpíada para comparar os atletas de diferentes países, existe a Olimpíada do Conhecimento (World Skills International). É iniciativa das nações altamente industrializadas, que permite cotejar diversos sistemas de formação profissional. Compete-se nos ofícios centenários, como tornearia e marcenaria, mas também em desenho de websites ou robótica.
Em 1982, um país novato nesses misteres se atreveu a participar dessa Olimpíada: o Brasil, por meio do Senai. E lá viu o seu lugar, pois não ganhou uma só medalha. Mas em 1985 conseguiu chegar ao 13º lugar. Em 2001 saltou para o sexto. Aliás, é o único país do Terceiro Mundo a participar, entra ano e sai ano.
Em 2007 tirou o segundo lugar. Em 2009 tirou o terceiro, competindo com 539 alunos, de sete estados, em 44 ocupações. É isso mesmo, os graduados do Senai, incluindo alunos de Alagoas, Goiás e Rio Grande do Norte, conseguiram colocar o Brasil como o segundo e o terceiro melhor do mundo em formação profissional! Não é pouca porcaria para quem, faz meio século, importava banha de porco, pentes, palitos, sapatos e manteiga! E que, praticamente, não tinha centros de formação profissional.
Deve haver um segredo para esse resultado que mais parece milagre, quando consideramos que o Brasil, no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), por pouco escapa de ser o último. Mas nem há milagres nem tapetão. Trata-se de uma fórmula simples, composta de quatro ingredientes.
Em primeiro lugar, é necessário ter um sistema de formação profissional hábil na organização requerida para preparar milhões de alunos e que disponha de instrutores competentes e capazes de ensinar em padrões de Primeiro Mundo. Obviamente, precisam saber fazer e saber ensinar. Diplomas não interessam (quem sabe nossa educação teria alguma lição a tirar daí?).
Em segundo lugar, cumpre selecionar os melhores candidatos para a Olimpíada. O princípio é simples (mas a logística é diabolicamente complexa). Cada escola do Senai faz um concurso, para escolher os vencedores em cada profissão. Esse time participa então de uma competição no seu estado. Por fim, os times estaduais participam de uma Olimpíada nacional. Dali se pescam os que vão representar o Brasil. É a meritocracia em ação.
Em terceiro lugar, o processo não para aí. O time vencedor mergulha em árduo período de preparação, por mais de um ano. Fica inteiramente dedicado às tarefas de aperfeiçoar seus conhecimentos da profissão. É acompanhado pelos mais destacados instrutores do Senai, em regime de tutoria individual.
Em quarto, é preciso insistir, dar tempo ao tempo. Para passar do último lugar, em 1983, para o segundo, em 2007, transcorreram 22 anos. Portanto, a persistência é essencial.
Essa quádrupla fórmula garantiu o avanço progressivo do Brasil nesse certame no qual apenas cachorro grande entra. Era preciso ter um ótimo sistema de centros de formação profissional. Os parâmetros de qualidade são determinados pelas práticas industriais consagradas, e não por elucubrações de professores. Há que aceitar a ideia de peneirar sistematicamente, na busca dos melhores candidatos. É a crença na meritocracia, muito ausente no ensino acadêmico. Finalmente, é preciso muito esforço, muito mesmo. Para passar na frente de Alemanha e Suíça, só suando a camisa. E não foi o ato heroico, mas a continuidade que trouxe a vitória.
A fórmula serve para toda competição: qualidade valorizada, seleção dos melhores, prática obsessiva e persistência. Quem aplicar essa receita terá os mesmos resultados.

Palestrante Virtual

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A importância da educação nos primeiros anos

54 mil alunos participam da segunda edição da Prova ABC

Fazem a prova alunos do 2º e 3º ano do Ensino Fundamental, de 1.200 escolas

Divulgação/Todos Pela Educação
30/11/2012

De 13 a 23 de novembro acontece, em todo o País, a aplicação da segunda edição da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), uma parceria do movimento Todos Pela Educação, da Fundação Cesgranrio, do Instituto Paulo Montenegro/Ibope, e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A prova tem como objetivo avaliar a qualidade da alfabetização dos alunos nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Nessa edição, serão avaliados cerca de 54 mil alunos do 2º ano e 3º ano do Ensino Fundamental, em 1.200 escolas públicas e privadas distribuídas em 600 municípios brasileiros.

A primeira edição da Prova ABC, aplicada no início de 2011 apenas nas capitais, contou com a participação de 6 mil alunos que tinham concluído o 3º ano do Ensino Fundamental, de 250 escolas. Os resultados revelaram que apenas 56,1% dos alunos aprenderam o que era esperado em Leitura para este nível do ensino, 53,4 em Escrita e 42,8% em Matemática, com grande variação entre as regiões do País e as redes de ensino (pública e privada).

 
 
Opinião: Educação Infantil de qualidade pode alavancar Ensino Médio
"O Brasil brigou para encaixar as creches na criação do Fundeb, mas os recursos da União e sua capacidade de atuação na primeira infância são pífios", afirma Alexandre Le Voci Sayad
Fonte: Estadão.com
30/11/2012
Fuvest e Enem não são sinônimos de Educação. Tampouco o Ensino médio o é. Em tempo de crescimento econômico e crise de mão de obra qualificada, uma onda de inconsciente coletivo costuma a apontar essa etapa como a única chave para a formação completa de cidadãos e trabalhadores adultos – “felizes e bem sucedidos”.
Não é tarde lembrar que os mais recentes estudos da neurociência apontam para o período de zero a cinco anos como o mais importante na formação cognitiva; é justamente nessa etapa que cerca de 90% da complexa rede neuronal é formada. A pergunta que paira no ar, esquecida nas vésperas dos vestibulares, é: será essa a gestão do Ministério da Educação que vai votar na Educação infantil a importância merecida?
 
 
Comentários:
 
Como essas duas reportagens refletem bem a situação as contradições e problemas da educação no Brasil. Por um lado, fica evidente a importância da educação nos primeiros anos da criança, mas, por outros, os resultados das crianças brasileiras não são satisfatórios.

Os resultados revelaram que apenas 56,1% dos alunos aprenderam o que era esperado em Leitura para este nível do ensino, 53,4 em Escrita e 42,8% em Matemática, com grande variação entre as regiões do País e as redes de ensino (pública e privada)”.

“Não é tarde lembrar que os mais recentes estudos da neurociência apontam para o período de zero a cinco anos como o mais importante na formação cognitiva; é justamente nessa etapa que cerca de 90% da complexa rede neuronal é formada”.