A "Mãe-tigre", revista Veja "COITADINHO, TÃO ESTRESSADO" e a reportagem do Fantástico

Edição do dia 10/05/2012 - Atualizado em 10/05/2012 19h31

Júlia Lemmertz, Malu Mader e Maria Paula discutem criação rigorosa

A apresentadora Renata Ceribelli se reuniu com as atrizes.
Neste domingo, o Fantástico comemora o Dia das Mães com um animado debate sobre a educação dos filhos. A apresentadora Renata Ceribelli se reúne com Júlia Lemmertz, Malu Mader e Maria Paula e, juntas, elas assistem a trechos do documentário da BBC sobre o polêmico livro “O Grito de Guerra da Mãe-tigre”, escrito por uma mãe radical que cria as duas filhas à moda chinesa.

As atrizes discutem as regras exageradas impostas pela autora e dão suas opiniões e palpites sobre como ter uma boa relação com os filhos e, ao mesmo tempo, impor limites e ter autoridade na hora certa.
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O Fantástico discutiu sobre a forma de educar que consta no livro da "Mãe-tigre". Econtrei um ótimo texto do Cláudio de Moura Castro que saiu na Veja sobre o assunto.

COITADINHO, TÃO ESTRESSADO
Por Cláudio de Moura Castro – Veja 23 de agosto de 2011



“Se há stress entre nossos vestibulando , não é por excesso de dedicação, por horas demais diante dos livros, mas por falta de hábito de estudar”.
 
A Senhora Deborah Stipek se preocupa com o stress dos seus alunos que tentam entrar em universidades hipercompetitivas. Poderiam ser mais felizes e tão bem-sucedidos se fossem para outras com menos nome. Corretamente interpretado, é um comentário pertinente. Contudo, ela é diretora do Departamento de Educação de Stanford e a nota saiu como editorial na revista Science, ambos prestigiadíssimos. Há o risco de ser mal interpretada no Brasil, onde alguns festejam as desculpas para a malandragem. Dito e feito, foi isso que lemos na nossa imprensa.

Entendamos o stress. Sentindo a ameaça de ser comido por uma onça, o corpo reage, reajustando o fornecimento de energia para cada órgão e preparando-se para fuga ou a luta. Hoje há menos perigos físicos, mas a reação é a mesma, diante de uma ameaça, seja o medo de levar bomba na escola ou perder a promoção. Porém, os caminhos do stress são tortuosos (além do que poderíamos explicar aqui). Em primeiro lugar, o que causa stress não é a ameaça em si, mas nossa insegurança de lidar com ela. Pesquisas mostraram baixo stress em advogados defendendo causas difíceis, o qual virava alto stress diante do trânsito engarrafado. Policiais de Los Angeles tomam facas de criminosos, perseguem bêbados na estrada e terminam o dia na delegacia fazendo seu relatório. Supressa! O stress só aparece na delegacia, absolutamente segura. A lógica é cristalina. O advogado passou anos se preparando para lidar como stress dos tribunais, mas não os imponderáveis do trânsito. O mesmo ocorre com o policial. Tomar facas é sua profissão. Escrever um relatório que pode ser criticado por seus superiores é terreno pantanoso.

Em segundo lugar, stress não é necessariamente uma coisa ruim. Pode ser boa. O ato de criação pode ser estressante. Tarefas desafiadoras podem ser estressantes e boas. Portanto, evitar o stress pode significar distanciar-se de realizações. Entrar nas universidades de primeira linha é dificílimo. Mas é nelas que se concentram as melhores cabeças e de onde saem as melhores ideias e inovações. É por isso que ouvimos falar tanto de Harvard ou Stanford. Aliás, a professora Stipek trocaria seus orientandos por outros, de universidades mais fáceis?

Voltando à escola, o stress não tem a ver com o número de horas de estudo ou com a dificuldade do assunto ou sua chatice – mas com a falta de preparação para lidar com isso. Um coreano pode passar doze horas estudando, todos os dias, sem stress, pois é seu hábito. Um brasileiro que estuda dez minutos por dia vai ficar estressado se tiver que estudar meia hora. Uma pesquisa curiosa ilustra a desconexão entre o stress e suas causas. Verificou-se que alunos asiáticos ficavam estressados quando tiravam notas ruins, trazendo a vergonha à família e pondo em jogo sua reputação. Em contraste, americanos ficavam estressados quando tiravam notas boas, pois eram malvistos pelos colegas e xingados de nerds. Sofrer com o stress não é uma fatalidade. A solução é aprender a lidar com ele, como fazem os advogados e policiais citados. Achar que os alunos estão estressados porque estudam demais é parte do cacoete que explica nossos péssimos resultados nos testes internacionais.

Em uma pesquisa que realizei, foi possível notar que os alunos do supletivo dedicavam mais horas à televisão por dia do que ao estudo durante toda a semana. Outra pesquisa mostrou que, quanto mais elevada a série, menos o número de horas de estudos diários – com maior maturidade, deveriam estudar mais. Mesmo às vésperas do vestibular, as horas de preparação são poucas, até no ensino privado. Os números mostram: nossa educação combina uma jornada escolar curta com míseros minutos estudando em casa. É o pior dos mundos.

Previsivelmente, o editorial da Science logo despertou o instinto maternal nos nossos luminares: coitadinhos dos nossos alunos, tão estressados! Mas está errado, se há stress, não é por excesso de dedicação, por horas demais diante dos livros, mas por falta de hábito de estudar. Estressado é quem nunca estudou direito e, de repente, ouve dizer que para passar no vestibular é preciso mudar de vida. A solução não deve ser estudar pouco ou buscar um curso fácil, mas aprender a estudar e aprender a lidar produtivamente com o stress.


Comentários:

Só não pode sair de um extremo como da “Mãe Tigre” exigente e ir para o outro que acontece muito no Brasil no qual a criança estuda muito pouco em casa e o tempo de estudo na escola fica muito abaixo dos países que têm bons resultados no PISA. Além de poucas horas de estudo, tem vários aspectos que devem ser considerados: a qualidade, a concentração, o desempenho e o equlíbrio entre os estudos e outras atividades.
É importante que o grande potencial das crianças não seja desperdiçado. Equilíbrio, respeito às diferenças e desenvolvimento contínuo sem sobrecargas com certeza vão contribuir para que as crianças sejam mais felizes.
E aquelas crianças não têm disciplina, que tiram notas baixas e têm uma autoestima muito baixa, que não conseguem expressar suas ideias nas redes sociais por falta de vocabulário ou capacidade de leitura e escrita...?
Será que elas não sentem falta de uma “mãe um pouco tigre”?

5 comentários:

  1. Bom dia,Ednaldo!
    Amei seu blog,bom,gostaria de uma orientação sua como psicoedagogo.Eu gostaria de ser mais rígida com meu filho,sabe,ele é um menino super educado,mas,não consigo uma ordem certa de colocá-lo na hora de estudar,na verdade quando falo,filho ta hora de estudar ele vai sem pestanejar.Mas,gosta muito de uma tv,de seus brinquedos,na verdade gostria de uma rotina ceta é que não estou conseguindo fazer...Obrigada!

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    1. Muito obrigado pelo comentário em relação ao blog! Com certeza vai ainda melhor com a participação como a sua.
      Sobre seu filho, seria necessário um contato maior para uma análise mais detalhada. Qual é a idade dele? de qualquer forma, você precisa controlar o tempo assistindo TV. Tente combinar com ele uma agenda com direitos e deveres. Quando ele seguir, não deixe de elogiar enaltecendo a responsabilidade apresentada,
      Pelo que você disse, ele vai internalizar a rotina e isso será importante para que tenha tranquilidade e sucesso.

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  2. Se a educação no nosso país fosse mais rígida,se nossas crianças fossem cobradas pelo que não fizeram,com certeza aprenderiam mais.Nossas escolas deveriam ser TIGRES assim como os pais, sou da opinião que primeiro o DEVER depois o prazer. Cissa Peretti

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  3. Muito obrigado pelo comentário!
    Concordo que o foco que estamos dedicando para os pais deve ser voltado para a escola e esta também precisa equilibrar bem a disciplina e a exigência com a motivação e o elogio. Não pode ser permissiva.

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  4. Muito bom o artigo e excelente seu comentário. Fiquei morto de vontade de escrever sobre o assunto, mas gosto mais de falar, de ver o olho, de sentir a atenção. Fico satisfeito por tê-lo lido e lembrar dos bons tempos. Pode ter certeza, continuamos os mesmos, somente mais experientes e vividos. Parabéns!

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