O ilustre
Jacotot, professor com mais de 30 anos de experiência, compartilhou esses
pensamentos em pleno século XIX, o professor Toru Kumon, também com mais de 30
anos de experiência, desenvolveu um método que o aluno aprende sozinho na lógica
dos “livros” (material didático autoinstrutivo). Eu e milhares de alunos que
estudaram na Escola Técnica Federal no século XX aprendemos física sem
professores explicadores, estudávamos em casa e comparecíamos à aula apenas
externar o que aprendemos nos “Passos” (provas com 5 questões). Os alunos das
Escolas Técnicas Federais eram os melhores nesta disciplina.
Jacques
Rancière percebeu que os pensamentos de Joseph Jacotot são tão atuais e por isso
trouxe na obra “Le Maître Ignorant” em 1987.
Um
aspecto importante destacado por Rancière na obra de Jacotot é que aprender por
meio do professor é limitador, pois o aluno fica limitado a aprender com base
nos conhecimentos do mestre. Por outro lado, aprender com os livros é caminho
para emancipação, pois o aluno pode aprender qualquer coisa e pode aprender
sempre. Um outro ponto que devemos refletir sobre o professor explicador é que
ele pode sufocar o aluno:
“Não se sobrecarrega a memória, forma-se a
inteligência. Eu compreendi,
diz a criança,não sou um
papagaio.Mais ela esquece, mais lhe parece evidente que
compreendeu”.
Podemos
revolucionar a educação do século XXI com essas formas de aprender. Nos tempos
atuais temos muito mais livros e materiais didáticos, além da internet, para
possibilitar que as pessoas aprendam sem explicações de um “Mestre Ignorante”.
E qual é o
papel do mestre?
O mestre deve ser um orientador para despertar
a vontade da criança para que possa desbravar os livros. Para isso, é
fundamental que o mestre acredite na inteligência da criança e indique os livros
adequados, mas sem deixar de emancipá-lo para outros livros.
O mestre
emancipador
Essas contingências haviam
tomado, na circunstância, a forma de recomendação feita por Jacotot. Disso
advinha uma conseqüência capital, não mais para os alunos, mas para o Mestre.
Eles haviam aprendido sem mestre explicador, mas não sem mestre. Antes, não
sabiam e, agora, sim. Logo, Jacotot havia lhes ensinado algo. No entanto, ele
nada lhes havia comunicado de sua ciência. Não era, portanto, a ciência do
Mestre que os alunos aprendiam. Ele havia sido mestre por força da ordem que
mergulhara os alunos no círculo de onde eles podiam sair sozinhos, quando
retirava sua inteligência para deixar as deles entregues àquela do
livro.
Há embrutecimento quando uma
inteligência é subordinada a outra inteligência. O homem — e a criança, em
particular — pode ter necessidade de um mestre. quando sua vontade não é
suficientemente forte para colocá-la e mantê-la em seu caminho. Mas a sujeição é
puramente de vontade a vontade. Ela se torna embrutecedora quando liga uma
inteligência a uma outra inteligência. No ato de ensinar e de aprender, há duas
vontades e duas inteligências. Chamar-se-á embrutecimento à sua coincidência. Na
situação experimental criada por Jacotot, o aluno estava ligado a uma vontade, a
de Jacotot, e a uma inteligência, a do livro, inteiramente distintas.
Chamar-se-á emancipação à diferença conhecida e mantida entre as duas relações,
o ato de uma inteligência que não obedece senão aela mesma, ainda que a vontade
obedeça a uma outra vontade.
A
experiência pareceu suficiente a Jacotot para
esclarecê-lo:pode-se ensinar o que se
ignora,desde que se emancipe o aluno;isso é, que se force o aluno a usar
sua própria inteligência. Mestre é aquele que encerra uma inteligência em um
círculo arbitrário do qual não poderá sair se não se tornar útil a si mesma.
Para emancipar um ignorante, é preciso e suficiente que sejamos, nós mesmos,
emancipados; isso é. conscientes do verdadeiro poder do espírito humano. O ignorante aprenderá sozinho o
que o mestre ignora, se o mestre acredita que ele o pode, e o obriga
a atualizar sua capacidade